Bagunça que vive aqui

Cresci acreditando que o bom da vida era ter o tal controle entre a razão e a emoção. Tão simples de ensinar, de falar... Mas na prática mesmo, era difícil de aplicar. Como explicara para um coração que te engole que ele deve ponderar tudo com doses extras de razão? Como explicar para um coração que só sabe sentir que é preciso ponderar se vale a pena ou não mergulhar? Era difícil. Nunca consegui lidar bem com esse equilíbrio, até porque nunca o estabeleci. E foi melhor assim. Seguir a minha emoção me fez viver as maluquices mais lindas e incríveis da minha vida. Seguir a minha emoção me fez amar intensamente, me fez viver histórias bonitas de amor, me fez desejar o para sempre, me faz acreditar em final feliz... Seguir meu coração me fez ser adulta cedo, até porque a vida ensina o preço que pagamos por sentir demais. E isso foi bom. Fortaleceu. Agir sabendo o peso de cada decisão, agir sabendo que pode sair machucada... Putz, não sei viver de outra forma que não seja essa. Vale cada dorzinha do mundo, entende? Não saberia viver sem sentir a adrenalina pulsar no peito, não saberia viver do que os outros contam de suas aventuras pela vida a fora. Eu preciso sentir tudo. Tudo o que sinto que vale a pena viver. Não me preocupo com o tempo que vai durar, me preocupo com a intensidade em que será vivido. Entendo a minha razão, sei que de vez em quando ela nos poupa de voos altos... Mas não troco as quedas por nada nesse mundo. Preciso. Preciso sentir o friozinho na barriga, sentir as borboletas me endoidecerem. Preciso sentir os olhos brilhando... Se não for eterno, será perfeito pelo tempo que for. E vai valer a pena. Porque no mundo da gente, cada segundo vivido vale a pena. Nada vem para diminuir o que a gente é, ao contrário, vem para transformar, somar. Nos tornar pessoas melhores. 

Razão fica guardada na gaveta. De vez em quando lembro que ela existe. Mas não a culpo quando o coração extrapola. A gente honra o que vive e ponto. Se me fez sorrir por alguns segundos, já valeu todas as dores do mundo!

(Marcely Pieroni Gastaldi)